A ameaça aos chamados “rios voadores” que a Amazônia oferece como uma dádiva ao Sudeste e Centro-Oeste do Brasil
Na época do “verão” amazônico (junho a dezembro), as águas do mar, dos rios e lagos e da floresta (que os cientistas chamam de oceano verde) emanam densas camadas de vapor e umidade, transferindo água para a atmosfera. Essas camadas de ar, carregadas de umidade, se deslocam em grandes volumes para diversas áreas do continente, algumas muito distantes, como o Sudeste e o Centro-Oeste, provocando chuvas intensas. Esta descoberta científica gerou, não apenas um novo conhecimento mas, também, um novo conceito – são os chamados rios voadores. O termo rios voadores foi popularizado pelo Prof. José Marengo/Inpe. [...] em direção ao oeste, os rios voadores (massas de ar) carregadas de umidade – boa parte dela proveniente da evapotranspiração da floresta – encontram a barreira natural, formada pela Cordilheira dos Andes. Eles se precipitam parcialmente nas encostas leste da cadeia de montanhas, formando as cabeceiras dos rios amazônicos. Porém, barrados pelo paredão de 4.000 metros de altura (dos Andes), os rios voadores, ainda transportando vapor de água, fazem a curva e partem em direção ao sul, rumo às regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e os países vizinhos.[1]
À medida em que a área florestada da região amazônica diminui, se reduz,
também, a umidade que os ventos da região costumam espalhar para outras regiões
brasileiras, comprometendo o volume de umidade/água dos “rios voadores”. Em
consequência, as nascentes dos maiores rios brasileiros, que nascem no
Centro-Oeste (Tocantins, Araguaia, São Francisco etc.) sofrem o impacto da
redução dessas chuvas e perdem volume. Isto significa que o desmatamento da
Amazônia compromete a perenidade dos rios e a estabilidade climática de todo o
país e não apenas da região, como muitos pensam.
Reduzindo-se a área da floresta amazônica, os rios e os
reservatórios de águas que abastecem as cidades do Centro-Oeste, Sudeste e Sul
serão altamente prejudicados e mesmo com áreas desertificadas. Estudos já
realizados pelo Inpe demonstraram a importância vital da floresta amazônica em
pé, não apenas para a própria região, mas para todo o Brasil. Esses estudos
mostraram que uma árvore com uma copa de 10 metros de diâmetro é capaz de
bombear, jogando na atmosfera em torno de 300 litros de água; se tiver 20
metros de diâmetro, joga na atmosfera até 1.000 litros de água diariamente.
Imagens de satélite do Inpe estimam a existência em torno de 500 a 600 bilhões
de árvores na floresta amazônica. Caso as autoridades levassem em conta ao
menos esses estudos, certamente a política ambiental para boa parte do Brasil
seria mais cuidadosa e mais preventiva quanto ao futuro próximo.
Portanto, o problema ambiental da Amazônia não é apenas uma questão
regional, mas sim de segurança nacional (que não se confunde com o tratamento
estreito e raso de segurança nacional de que costumam falar os militares – que
em geral, referem-se a questões ideológicas – em especial, busca de supostos
perigosos comunistas, ideia que os orientam a defender o país contra seu
próprio povo (sic!) – mas sim, à segurança alimentar, biológica e de
desenvolvimento do povo brasileiro). A descoberta recente desta articulação
entre as chuvas da Amazônia e as chuvas de outras regiões brasileiras mostra
que não basta alcançar o desmatamento zero. Precisamos parar imediatamente de
desmatar e fazer muito mais que isto – reflorestar áreas desmatadas com
espécies regionais de porte médio e elevado e de copas largas, se queremos
preservar a segurança hídrica das populações de outras regiões, a qualidade de
vida e saúde da população e a garantia de água e eletricidade do país.
[1] PETROBRAS/EXPEDIÇÃO RIOS VOADORES. Fenômeno
dos rios voadores. Disponível em:
https://riosvoadores.com.br/o-projeto/fenomeno-dos-rios-voadores/
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