O romancista, dramaturgo e diretor de cinema, Márcio Souza, morreu aos 78 anos, nesta segunda-feira, dia 12 de agosto de 2024, após uma parada respiratória. Personalidades e intelectuais do Brasil lamentaram a morte precoce do escritor, dentre eles, o editor e poeta Tenório Telles, que escreveu Réquiem para Márcio Souza, em homenagem ao intelectual da Amazônia. Confira:
RÉQUIEM
PARA MÁRCIO SOUZA
[para
Margarida Campos]
Tenório
Telles
A
manhã cinzenta
e
silenciosa emudeceu
os
pássaros não cantaram
o sol
fechou os olhos
em
deferência ao senhor
da
memória da terra:
dos
refolhos do tempo
ouvem-se
os cantos dos silenciados
dos
mortos sem sepultura
dos
heróis anônimos dos beiradões:
dos
que lutaram pela terra
dos
que lutaram pela fé
dos
que lutaram pelos seus deuses
dos
que lutaram por suas histórias
milenares
– por seus amores martirizados
onde o
canto guerreiro de Ajuricaba:
quem
celebrará seu amor por Inhambu
quem
cantará o canto de sua gente
quem
lembrará sua causa
e seu
amor pela liberdade
quem
tecerá a poranduba
perdida
dos povos esquecidos:
tarumãs,
passés, Manaus
todas
as gentes desterradas –
órfãs da
grande utopia ameríndia
do
sonho de Buopé
do
sonho de Conory
do
sonho de Maruaga
do
sonho da grande rainha
Amurians
e suas mulheres guerreiras
de
dentro da noite originária
Yeba
Buró entoa um canto triste
lamentoso
pela partida
daquele
que deu voz aos mortos
e
proscritos da pátria das águas
dos
martirizados da floresta
a
grande senhora do céu
a
grande avó do tempo
a
grande criadora do mundo
Yeba
Buró celebra este filho
da
terra – senhor da palavra
e da
memória – que feito pássaro
partiu
para a terra sem males
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