Após 43 anos fora do mercado brasileiro, clássico latino-americano ‘A Voragem’ será relançado em Manaus
‘A Voragem’, de José Eustasio Rivera, é um clássico da literatura universal e considerado o primeiro romance de selva latino-americana do século XX. É a obra literária mais importante da Colômbia e após 43 anos fora do mercado brasileiro, será relançado pela Editora Valer, em Manaus, nesta quinta-feira, dia 18 de setembro, às 17h30, no salão de eventos da Valer Teatro.
O evento, com entrada gratuita, traz o professor Marcos Frederico Krüger, doutor em Letras; o professor doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia, Freddy Espinoza; e ainda com participação especial, online, dos professores colombianos, Carlos Páramo e Erna Von Der Walde.
Neste romance, o autor José Eustasio Rivera não poupa detalhes ao denunciar os crimes bárbaros dos barões da borracha. Com uma escrita dura, mas incrivelmente elegante, ele expõe a violência crua contra indígenas, caboclos e até mesmo brancos.
Esta não é apenas a história de um passado brutal, mas uma obra atemporal que nos faz refletir sobre a crueldade humana. Nela, a violência é tão avassaladora que até mesmo o amor parece pequeno.
Para a doutora em Filosofia e coordenadora editorial da Valer, Neiza Teixeira, o autor serve-se de uma escrita dura, porém elegante, para denunciar os crimes bárbaros, cometidos pelos barões da borracha, contra indígenas e caboclos, mas, não escapam nem mesmo os brancos quando eles os querem descartar.
“Nas suas páginas, eleva-se uma violência crua e bizarra, que faz com que o amor se torne pequeno diante dela. A sua leitura leva-nos a pensar sobre a escuridão humana, comparável à escuridão da selva”, ressaltou Neiza.
O escritor peruano e professor da Universidade do Estado do Amazonas Freddy Espinoza explica que o romance está escrito em uma prosa elegante e refinada, cheia de metáforas e poesia prosaica que mostram a beleza e o exotismo da floresta tropical virgem.
“Todavia, é um livro de denúncia do capitalismo na Amazônia, por meio da violência contra povos indígenas e a exploração dos seringueiros e caucheiros na região de fronteira. A Voragem é um romance impactante que combina elementos de incriminação social, aventuras, exuberância e força da floresta amazônica, tornando-se numa leitura marcante e relevante para a literatura amazonense”, escreveu Espinoza.
Sobre a obra – por Freddy Espinoza
A importância desta obra está em seu caráter interpretativo da nação latino-americana que tem como temas principais a violência e a barbárie no início do século XX. A definição dos limites fronteiriços entre Brasil, Colômbia e Peru, que se configurou em um imbróglio de desatinos e caos, narrados por meio do seu personagem principal Arturo Cova, um paladino da civilização, mas que tem ínfulas de conquistador e delírios de grandeza, para mais tarde perder o controle da razão, tornando-se em um protagonista complexo até finalmente declarar “Antes que tivesse me apaixonado por alguma mulher, joguei meu coração ao acaso e ele foi ganho pela violência”. O romance admite toda sorte de leituras em diferentes momentos, que inclusive podem ser contraditórios, e, ainda assim, circunscrevem a obra, e permite auscultar um lugar, desde uma luz e uma perspectiva distinta. Após cem anos da publicação da A Voragem, a situação da Amazônia não mudou quase nada.
O romance tem sido discutido em diversas disciplinas, como a História, a Geografia, a Cartografia, até a Antropologia, a Economia; uma grande variedade de visões interdisciplinares. A Voragem faz-nos refletir sobre a violência em começos do século XX, tornando-se um texto de enorme contemporaneidade, que traz consigo o mercado global de como se organiza a economia extrativa, na exploração bananeira do Caribe, do salitre no Chile, do petróleo e da extração de plumas de garças na Venezuela, da borracha nos países da Tríplice Fronteira Amazônica, que hoje se reflete no comércio ilegal do ouro no território dos Yanomami, Mundurucu, Ashanincas etc., da invasão violenta dos seus territórios e das suas populações pelos garimpeiros, madeireiros, grileiros, traficantes e mercenários paramilitares.
Por último, A Voragem nos apresenta o outro lado da moeda do capitalismo ocidental de uma manera tão brutal e crua por meio de um sistema de tortura e terror pelo qual sequestravam comunidades indígenas, endividaram-nas e submetiam-nas a trabalhos forçados, obrigavam as suas mulheres indígenas a serem concubinas dos administradores da empresa inglesa Peruvian Amazon Company, e para atemorizá-las pegavam as suas crianças indígenas para jogar à roleta russa ou pegavam os seus bebês pelos pezinhos para lançá-los contra as lisas rochas dos rios Igaraparaná e Caraparaná.
Esta leitura é indispensável para todos os interessados pela história da exploração capitalista na Amazônia, pela literatura latino-americana e pela natureza humana.
A Editora Valer

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